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domingo, 21 de agosto de 2011

ÉRAMOS TÃO JOVENS, TÃO JOVENNNNNNSSSS

Eu nunca fui pequena, já nasci grandona e gordinha. Mas sempre fui a caçula das duas famílias Moreno e Sacramento. Então ai, já viu, sempre fui tratada como a pequeninha, princesinha, toda inhazinha. Acho que foi na minha família que descobri que princesa podia ter cabelo duro e ser gorda, mas essa é outra história.
Minha irmã mais velha que eu sofria como minha pequeninice, pois ela, como sempre pavio curto, não tinha paciência para as minhas maluquices e, principlamente, para as minhas pirraças. Então, sempre que ia revidar, tinha que , de quebra, ouvir o apelo de minha mãe: "Ela é tão pequeniniiiiiiinha". Eu adorava e, como toda criança, usava isso ao meu favor, me safando e indo aninhar-me com carinha inocente nos braços de D. Norma.

O problema é que não ficou por ai, como meu aniversário é no meio do ano, apesar de maior do que os colegas de sala, era sempre a mais nova. E hoje eu entendo perfeitamente a diáletica de João Pedro, meu sobrinho de três anos e meio, quando alguém pergunta se ele é grande ou pequeno, e ele responde: "Eu sou grande (e para um pouco, fazendo cara de quem está fazendo uma profunda reflexão e continua) e pequeno". Acho que é isso que sempre fui: grande, apesar de pequena.

Então, eu me acostumei e confesso:comecei a gostar muito de ser sempre a pequenininha, a jovenzinha. Um complexo de Peter Pan danado.Há vários episódios em que se deflagrava esta situação. Quando passei no Concurso do Estado para Educação Básica e fui assumir meu cargo de professora no Colégio Estadual de Portão, a diretora ficou entusiasmada ao me ver e disse para os quatro cantos: "olha, gente, é um bebezão". Achei engraçado, apesar da enorme vergonha.Depois, na minha primeira aula num cursinho pré-vestibular, ao entrar na sala e subir no tablado, os alunos, quase da minha idade, ficaram achando que eu estava de presepada, fazendo gozação com eles...Foi difícil convencê-los de que era eu mesmo a professora. Não foi diferente quando eu fui dar aula no Ensino Superior, mas as histórias eram, sem dúvida, menos divertidas.
O problema é que o tempo passa, o tempo voa, e tudo muda (até a poupança Bamerindus deixou de existir, dando provavlemnte lugar ao sorriso de um outro Banco mais rentável). Comigo não foi diferente, né??? O tempo passou e minha idade, meu corpo, meu ser foi mudando. Eu também não dei por esta mudança, como Cecília. Mas não percebi mesmo...

Até pouco tempo atrás... Em julho, fui para um show do Jota Quest. Amei!! Cantava todas as músicas, me joguei literalmente. Só que ai, o Rogério inventou de dizer que eram os 15 anos da banda, e apesar da festa, havia um tributo a Legião Urbana, por conta da passagem dos também 15 anos da morte do Renato Russo. Ai, velho, entram abruptamente no palco Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos. Primeiro impacto: aqueles homens outrora jovens lindos já apareciam grisalhos e com pé de galinha ao redor dos olhos. Tive uma dor física, bem no coração (não é exagero) e ai soaram os acordes de Tempo Perdido: "todos os dias quando acordo, não tenho mais o tempo que passou". Velho, pense na Epifania!!! Eu cantando as músicas - acho que gritando e, como diria o Faustão: "passando um filme na minha cabeça". Enxergava cenas da escola, das festas, das angústias,de ouvir trocentas vezes uma fita cassete do Legião, trancada no meu quarto, de tentar decorar a letra todinha de Faroeste Caboclo.

Foi ai que eu comecei a suspeitar... Na verdade, eu acho que entendi: tenho 34 anos e ninguém mais se surpeende se entro ou saio de qualquer lugar, se dirijo carro ou trator. Já falam até que tô ficando velha para parir. E me sinto inapta para cantar: "somos tão jovens", porque acho que o verbo está no tempo errado. Meu conforto é ouvir: "mas temos muito tempo". Sei que agora já não tenho mais todo o tempo do mundo, apesar disso posso perder tempo, me dou este contraditório direito. Talvez tenha sempre sido assim!!! Eu é que não compreendia!!! Quando era mais jovem nem ligava para o tempo que insistia em escorrer pelos dedos, apesar de ter uma pressa eufórica enorme.

Hoje, sei que não adianta fugir, nem correr tresloucada: "temos nosso próprio tempo, temos nosso próprio tempo, temos nosso próprio tempo". É um mantra que me conduz ao espelho e me mostra esta jovem mulher em que me tornei. Por quanto tempo serei ela??? Só até daqui a pouco. Inevitável. Inevitável. Mas bonito como a própria vida!!!