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sábado, 24 de março de 2012

MITOLOGIA REVISTA (OU DE REVISTA)

Dos mitos que me encantam
Os Argonautas com seus feitos
São por obra e direito
Com quem de pronto, me deleito.

A pensar bem, não só pelos 'feitos'
Mas pela conturbada história de amor
Médeia, mulher forte, incendiada,
Não mede nem teme, não sente asco ou terror
São atos de amor daquela coitada
Atos para o homem que não a amou.

Jasão é homem ordinário, vulgar
Deseja incensos e louros
Quer mais o pódium do que o caminho
Figura tão fácil em nossos dias

O erro que comete
É o maior para a alma feminina
Não desposa por amor a princesa rebelde
Toma-a em casamento por agradecimento
Então nasce a ira no seio da menina

O fim trágico todos sabem
Matar a história
Matar quem a protagoniza
E quem pode continuá-la
Para, fazer de conta, que ela nunca aconteceu.

Os gregos estavam certos
Sabiam ver os demais
Compreederam o amor
Antes de todas as 'logias'
E fizeram o que hoje
já não somos mais capazes.

FILOSOFICES

Quando querem saber
o que sou?
Abro o currículo
De prefência o lattes
E respondo função.

Quando querem saber
Qual a idade?
Olho-me no espelho
Escondo os cabelos brancos
E enumero os anos de vida.

Quando querem saber
De que gosto?
Olho em volta, abro armários
Fuço estantes
Listo coisas.

Quando querem saber
Onde estou?
Para baixo, pés. Para cima, o nada
Logo ali em frente: a amplidão,
E anoto meu endereço.

Quando querem saber
Sobre o meu existir
Arregalo os olhos...

E a cada dia, é mais evidente
Que ser se tornou fazer
Envelhecer se tornou perder
Gostar se tornou ter
Estar se tornou morar
Entornando o caldo da repetição.

Nesta ciranda decadente,
Viventes menores querem
Que eu seja tanto
Sem sê-lo intensamente.
Para eles, letras e linhas.