No
chão, há grama, água, formigas
No
chão, há mármores, nomes, datas...
Datas
de chegada e datas de partida.
Mas
o que há em mim?
O
que ali fui buscar?
Buscar
o quê mesmo num
Lugar
de choros, de despedidas?
Lugar
de colocar o último ponto final
Lugar
de despedir-se de uma vida.
Lugar
onde as nuvens e os olhos
carregados
deságuam
Lá,
mais que os olhos choram
Lá,
chove uma chuva copiosa
Sempre
rala, apesar de abundante.
Lá,
para mim, sempre lugar de uma funda tristeza.
Mas
ontem, não.
Ontem,
fiz do lugar do fim uma ponte...
Ontem,
senti-me livre no lugar do fim
E
desconfio: senti-me feliz ali.
Não
havia tristeza nem choro
A
chuva persistia. Abundante, vigorosa.
Exigia
abraços, aproximações
Embaixo
do mesmo guarda-chuva.
Uma
primeira emoção.
A
emoção do reencontro,
mas
no depois
Só
uma entrega boa e plena.
Depois,
só um exercício bonito
De escolher
das flores, as mais coloridas
Eleger
guardião, assinar contrato
Burocratizar
um só ato.
E o
ato era somente
Arrumar
o chão,
não
porque nele ainda houvesse
o
amor, a entrega, a história.
Nada
havia, eu sabia, naquele chão.
Mas
é que a alma (ou a mente?)
Precisa
do palpável, do concreto
Ali,
era só um lugar onde é possível tocar o chão.
A
consciência alegre
desde
o primeiro pisar brotou!
Era
preciso pisar naquele chão
Era
preciso voltar, sem tristeza
Era
preciso cuidar do chão.
Porque
ali estavam minhas raízes
Porque
ali, ainda, que só simbolicamente
Vivem
eternamente os meus.
E
eu, tão cética, precisava
Iluminá-los
com flores, adorná-los com cores.
Para
que eles, onde quer que estivessem,
Ali,
aqui (sempre aqui) ou lá
Tivessem
a certeza
Que
em mim moram,
porque
me impregnaram
Com
suas histórias, com seus atos, suas memórias.
Porque
em mim, plantaram,
como
eu ontem tentara também plantar,
Um
gosto da festa dele,
assomado
a garantia de que nada faltaria dela
Um
abraço fácil e corriqueiro dele,
com
um amor profundo, escondido no olhar e na escuta dela.
Uma graça
brincante vadia dele
Uma
consciência séria de irmanar-se com toda a humanidade dela.
Era
só um desejo imenso
De
reconhecer, agradecer, destacar
Era
só a profunda certeza
De
que o amor não se apaga
O
amor é eterno
Mas
precisa sempre de que se reguem as flores
Acendam-se
nomes e datas
Adornem-se
as lápides
Agradeçam-se
aos amores!
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