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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

UMA HISTÓRIA MINHA DE LEITURA

Lauro de Freitas, Bahia, 20 de janeiro de 2012.

Oi, Pepeu! Depois de uma semana em Salvador, já estou cá de volta a Porto Alegre, lembrando-me da nossa despedida no aeroporto. Todos com olhos vermelhos de lágrima e só você bem alegre. Pensavas que viria comigo, não era? Até tentou entrar no saguão de embarque e quando me viu chorar, disse bem alto: “Vamos ser alegres em Porto Alegre”. Todos caímos na risada, menos você, porque já percebia que eu entrava por aquela porta sozinha, sem você, sem Mamá, sem nossa família. Foi só ai que se desesperou e acho que de tudo entendeu bem pouco...

Mas enfim, nem tudo é tão alegre aqui em Porto Alegre, como você pensa. Há coisas bem estranhas por estas bandas. E você, como bom detetive que é, sabe o quanto eu, medrosa de carteirinha, fico assustada com coisas misteriosas. Pois bem, contando ninguém acredita. Estava na casa onde moro, quando do nada, bateram na porta: toc-toc. Perguntei quem era e a voz disse apenas: “Correio”. Abri a porta bem devagarzinho, já que não tenho olho mágico nem na porta nem na cara. Então vi aquela figura assustadora: era um velho mal encarado, com uma cicatriz no nariz, barrigudo, de capa preta e... Sem farda dos Correios Brasileiros. Ele rapidamente me deu um papel, pediu que eu assinasse (e assim o fiz). Entregou-me um livro bem pequenininho com capa de madrepérola. Parecia um breviário. Você sabe o que é um breviário? É um livro em que os religiosos colocam suas orações.

Entrei em casa e fiquei pensando de onde viera aquele livrinho tão pequeno, sem identificação do remetente. Tomei coragem e abri-o. De lá de dentro, Pepeu... Você não vai acreditar... Aliás, você eu sei que irá compreender, mas se fossem seus pais ou sua avó. Hahaha. Duvido que acreditassem nessa história. Iriam dizer que era um sonho ou mais uma das minhas invencionices... Pois bem, lá dentro, só havia a imagem de um longo caminho vazio. Não havia nem flores, nem bichos, nem florestas, nem gentes. Achei tão esquisito, mas quando tentei folheá-lo, saíram das páginas pós brilhantes. Eu de grandona que sou fiquei pequenininha feito o Polegar e cai dentro do livro. Pode? Meu coração saltava de tanto medo. Eu suava que nem um cuscuz. Olhei para todos os lados e nada vi. Tentei buscar uma saída, mas só havia o nada em minha frente. Meus olhos se encheram de lágrimas, mas, como não existia outra opção, decidi seguir pelo caminho para descobrir onde chegaria e como faria para voltar para casa. Há poucos metros, avistei uma enorme placa, onde se podia ler: OS LIVROS ONDE SE DESEJA MORAR. Achei engraçado, apesar de toda aquela confusão e angústia. Onde já se viu? Livros para morar?

Seguindo a placa, encontrei uma casa enorme, parecia uma velha fazenda, cheia de janelas grandes e toda avarandada, mas não havia viva alma. Bati na porta delicadamente, e ninguém atendeu. Como achava que não havia ninguém lá mesmo, abri a porta. Ledo engano... Lá estava um monte de gente, amordaçados, amarrados, com olhares entristecidos. Eram conhecidos, mas eu não me lembrava bem de onde. Havia uma lesma[i], bem gordona, com roupa de festa, que parecia estar se arrumado para ir a um aniversário. Do outro lado, estava um grupo de crianças pequenas, todas amarradas umas nas outras, uma fedia tanto que não sei como os outros podiam suportar e a outra, aos prantos, segurava um coelhinho[ii]. Bem, no centro, estava uma menina. Devia ser a mais perigosa, pois estava ela e outra mais velha, amarradas de cabeça para baixo, com vara de condão nas mãos, um relâmpago no pescoço e um enorme bolinho de chuva enfiado na boca[iii]. Espalhados pela sala estavam vários bichos de estimação, até um bicho de pé, todos eles amarrados ao pé de Sua Avó. Calma, não me refiro a Vovó Norma, mas ao cãozinho basset que não podia nem se coçar e muito menos latir.[iv] Pepeu, não fique assustado, mas não eram só esses bichos: tinha mosquito, pingüim, leão, galinha d’ángola. E o pobrezinho de Assis... Isso mesmo! São Francisco, descalço, de mão e pés atados, literalmente.[v] Que heresia, meu Deus, que heresia! Por último, vi uma galinha, um jumento, um cachorro e uma linda gata[vi]... Estavam amontoados um em cima do outro, parecendo formar um horrendo monstro. Fiquei a pensar de onde os conhecia e sem contar conversa, comecei a soltá-los. Por que você sabe, não é, Pepeu? Corajosa eu não sou, mas injustiça eu não tolero. E aí, menino, foi aquela algazarra. Todos ficaram a falar, a fadinha começava a ter idéias para me agradecer, os bichos queriam festejar, a lesma no seu jeito devagar, agradecia e perguntava se ainda daria tempo de chegar a festa. E cada um tomou a sua direção. Todos arrumaram um lugar no entorno da casa e de uma forma barulhenta juntos começaram a providenciar suas moradias. Só que agora livres a cantar, brigar, bagunçar e correr. Eram muito animados aqueles seres encantados, viu?

Notei que naquele vuco-vuco, tornaram o local menos inóspito, mas o tempo passou e lá estava eu sozinha e perdida novamente. Na agonia, nem perguntei, porque estavam presos, nem como eu sairia daquele lugar. Mas cavucando a memória, lembrei que todos aqueles eram personagens das histórias que me faziam feliz na infância. Lembro-me que eu me agarrava a cada um daqueles livros e dormia com eles, comia com eles e pedia que os adultos os contassem várias vezes da mesma forma, sem esquecer nadica de nada. Eu queria viver intensamente lado a lado, quando menina, em cada um daqueles livros, com cada um daqueles personagens. Mas seguir era minha única opção. E fui. Até que outra placa apareceu: OS LIVROS QUE SAEM DA BOCA. Achei mais uma vez engraçado e decidi arriscar. Eu estava ali mesmo, perdida, sem noção de nada. Não custava descobrir.

Depois de alguns metros da casa, vi um mar enorme e uma casa grande, de pau a pique. O céu era de um azul intenso, mas o sol de rachar deixava o calor abrasador. Nem bati na porta. Fui logo entrando. E dessa vez, o susto foi maior. Era uma cena de terror de verdade. Então, se prepare, Pepeu, porque tem que ter muita coragem para ouvir o que agora eu vou contar. Havia uma mesa. Nela estavam sentados velhos e velhas com as bocas costuradas e o olhar perdido no nada. Meu Deus, eu não sabia bem o que fazer. Como descosturar bocas costuradas? Você sabe? Eu também não sabia, mas como dizem os antigos: “necessidade faz mulé véia parir”. Com o peito apertado, fucei a casa toda e achei uma faca afiada. Tive tanto medo de cortar os pobres velhos, mas com delicadeza, tirei as linhas de cada boca, cuidando para não sangrar ou ferir. E uma lágrima abundante correu do olhar deles em agradecimento. Tinha a mesma sensação da casa anterior: achava que os conhecia. Até que ao sair a última linha, os quatro velhos saltaram sobre mim, me apertando num abraço já sentido. Foi a vez das lágrimas caírem dos meus olhos... Eram meus avós, os seus bisavós, Pepeu. Você pode acreditar nisso? Há quanto tempo não os via? Há quanto tempo não os ouvia? Nem posso contar nos dedos. Maria, Antônio, Benita e Umbelino. Lá estavam eles, levantando-se da mesa, sorridentes e já colocando a boca liberta no mundo para contar histórias. Foram à cozinha da casa que ficava nos fundos e tinha uma enorme mesa. Do nada, surgiram bolo de puba, cuscuz de tapioca, banana da terra cozida e frita, um fruta-pão quentinho, um mingau de milho, tapioca seca, café, suco e muita siriguela, pitanga, manga. Que mesa farta! Não havia dúvidas. Eram meus avós mesmos!

Umbelino já começou fazendo graças e jurando de pé junto ser um rico fazendeiro em cuja fazenda há um rio cheio de bacalhau. Afirmou também que nas suas terras existia somente uma vaca (“para que mais?” ele perguntava) que num dia dava leite, no outro, dava leite condensado, no seguinte, produzia queijo e, no último dia, o queijo já saia na cuia. Depois, a vaca descansava, porque era uma trabalhadeira retada. Maria vinha docilmente aconselhando, dizendo que rezar era importante. A cada conselho aparecia um dito popular reflexivo: “quem a boca do meu filho beija, a minha adoça” ou outros cheios de picardia: “quem é dono dos beijos é dono dos peidos”. Antonio falava das histórias de seu irmão Manoel, tão diferente dele. Contava da raiva que o irmão sentiu em não ter sido convidado para o forró, porque o povo das redondezas achava que festa com Manoel sempre dava em confusão. Foi a deixa para mais uma das suas muitas artimanhas safadas. Dizia meu avó que o irmão se escondeu do lado de fora de uma das janelas. O arrasta-pé, comendo no centro, o povo suando e ele colocando pimenta malagueta de uma em uma no salão. Até que o povo começou a pisar nas danadas e a se coçar e foi um levantar de saias, foi um arde-arde que todo mundo acabou a festa e dali por diante aprenderam que folia com Manoel era bem mais tranqüila do que sem o sapeca. Por último, falou Benita sempre tão delicada, tão meiga. Uma mulher tímida, cuidadosa, mas que na hora de contar histórias só sabia assombrar. E começava a falar da menina que mesmo morta chamou o médico na estrada pra salvar a mãe; falou da madrasta que enterrou a enteada vivinha da silva só porque a pobre menina se descuidou da figueira; falou de um homem belo e sedutor todo de branco, que na verdade era o diabo. Por último, me chamou perto dela, colocou-me no colo como se criança ainda fosse e pegou debaixo da cadeira de balanço onde estava sentada várias gravuras de lendas brasileiras. Ela me mostrava as belas imagens e contava cada uma das narrativas. A do Boitatá, Caipora, Vitória Régia, a dos Bandeirantes, do Negrinho do Pastoreio, da Iara, da Mandioca, do Guaraná[vii].

Adormeci e quando percebi já era de manhã e eu estava sozinha na varanda. Olhei para dentro da casa e estavam todos em seus afazeres, cozinhando, cosendo e conversando. Percebi que muitas crianças tinham aparecido e ouviam felizes as histórias dos meus avós. Fiquei sem jeito de falar a eles da minha partida e com o coração aos pedaços decidi ir embora silenciosamente. Já na estrada, vi-me sozinha mais uma vez. Ao olhar para trás, vi todos eles rodeados de crianças, acenando para mim. De suas bocas saiam livros inventados e livros de verdade. Muitas de suas histórias me aninhavam, me assombravam, me faziam rir e adormecer. Nos seus rostos, havia felicidade e compreensão.

Mais uma vez, a emoção me impedira de buscar as razões que explicassem porque os havia encontrado daquele jeito e de que forma conseguiria retornar para casa. Mas meu coração estava pleno de gratidão pelo efeito que aquelas bocas contadoras de histórias haviam desde muito plantando em mim. Mas como seguir era mesmo minha única opção... Lá fui eu de novo. Olha, Pepeu, foi bom parar na casa dos nossos antepassados. Além de ajudá-los a sair daquele sufoco, pude descansar e recarregar minhas baterias para prosseguir. Você deve estar orgulhoso de mim, não é, Pepeu? E achando até que eu tenho os super-poderes dos heróis que você adora. Que nada, menino. Sou gente de carne e osso.

E estava mais uma vez completamente desnorteada. Andei léguas e nada de placas. Até que vi um muro branco, cercando toda uma casa, cheia de grades e um enorme portão. Parecia uma escola... Ou uma prisão? Confesso que tive muito medo, pois nenhumas das opções eram agradáveis para mim. Aproximei-me do local. Não havia placas. Apenas uma pichação na parede que dizia: “LIVROS DE CONFORMAÇÃO”. Aproximei-me do portão e logo veio um homem fardado que me inquiriu: “Quem é? De onde vem? O que faz? O que deseja? Volte depois”. Falou tudo num rompante, sem esperar resposta e me deu as costas. Que deselegância, Pepeu. Você sabe que sou medrosa, mas indelicadeza eu não suporto... Então, com as mãos nas cadeiras e dedo em riste, respondi tudinho: “Sou Luciana. Venho da Bahia. Estou perdida. Preciso de ajuda. Não posso voltar depois. Me ajude agora, logo e rápido”. E sabe o que eu descobri? Para um mal educado, um mal educado e meio. Só foi falar grosso e ríspido, o talzinho voltou e sem pestanejar destrancou os portões. Lá dentro eram muitas salas e em cada sala havia crianças, sentadas em fileiras em total silêncio com ouvidos enormes e sem bocas. Crês, Pepeu? Existia também em cada sala uma mulher, com um chicote numa das mãos, na outra, livros ‘embolorados’ e sem ouvidos nem olhos. As mulheres eram só boca. E como falavam. Liam dos livros maneiras de ser educado, não escarrar no chão, não arrotar na mesa, ser bom menino. “Eita, vida besta, meu Deus”.

Notei que havia um enorme pátio e nele estavam amontoados diversos livros. Fui até a pilha e encontrei livros que amava. Vi logo os livros da Coleção Vagalume, como O Caso da Borboleta Atíria, Meninos sem pátria, Açúcar Amargo, Sozinha no mundo. Depois, vi todos os volumes da Coleção para Gostar de Ler. Olhei para cada um deles e lembrei-me dos contos e das crônicas que li de Drummond, Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos. Havia também aquela coleção linda de capa dura, cor bege com letras douradas que minha mãe certa vez me presenteou: O Mundo da Criança. Ah, espalhados estavam os lindos poemas de Olavo Bilac, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes, Henriqueta Lisboa. Meu Deus, naquele amontoado, havia um manancial de prazer e saber! Desejei me jogar na montanha bagunçada, quando novamente apareceu o homem do portão, com fósforo e garrafa de álcool em punho. Fiquei perplexa, sem entender bem qual seria o próximo movimento dele. E sabe o que ele começou a fazer, Pepeu? Resmungava, jogando o liquido perigoso nos livros: “Mais porcarias para queimar. Isso não deve estar aqui. Não educa. Não conforma. Sem utilidade alguma”. Por que livros tão maravilhosos tem de ser úteis? Aí, aquela ousada que habita em todo ser vivente, se apossou de mim novamente e puxei a caixa de fósforos das mãos daquele louco. Na minha raiva, abri as salas, puxei as crianças com força e disse que pegassem os livros que quisessem, sentassem-se onde quisessem e começassem a ler. Afirmei que caso a leitura não as agradasse, escolhessem outro e outro livro até encontrarem aquele por que se enamorassem. Empurrei as resistentes mulheres e disse que fizessem o mesmo. Acho que eram todos tão obedientes que nem pestanejaram e fizeram o que ordenei. A partir dali e, nem me pergunte como, Pepeu, mágicas aconteceram... Apareceram bocas nas crianças e olhos e ouvidos nas mulheres. O homem timidamente começou a se aproximar da montanha e foi buscar seu livro também. E pasme, meu lindo menino! As grades se transformaram em janelas, o portão desapareceu, dando lugar a uma linda ponte e cores e flores e frutos e árvores irromperam do vazio. Havia uma “silenciosa algazarra[viii]” de olhos, bocas e ouvidos que iam de um lado a outro lendo e lendo...

Fiquei a olhar aquele movimento e me lembrei que li muito poucos livros indicados pela escola. Na verdade, os achava chatos e sem graça. Pedia que os colegas os resumissem. Depois, fazia o teste e era aprovada. Simples assim. Entretanto, aquela montanha a ser jogada no lixo eram os livros que moravam nas estantes de minha casa e me embeveciam. Eram desprezados pela escola e amados por mim. Nunca me serviram para fazer provas ou para passar de ano, mas me fizeram feliz, constituíram-se em experiência de vida e leitura, não apenas passaram por mim, mas me transformaram neste ser que hoje sou.

Bem, Pepeu, não preciso lhe dizer que saí mais uma vez sorrateiramente, solitária e sem respostas. E também, não preciso lhe dizer que segui em frente por ser esta a única opção que me restava. E fui... Dei alguns passos e vi uma placa, caída no chão cujos dizeres eram: “CABEÇAS INVENTORAS DE LIVROS”. Só que não havia casa, nem muros, nem nada. Andei pelo caminho e vi alguns jovens sentados no chão. Eram mais uma vez conhecidos e dessa vez não tive a menor dúvida. Sabia exatamente quem eram cada um deles. Não havia sido apresentada a eles na infância. Infelizmente. Mas a vida adulta e minha vocação de professora tinham há muito os colocado em meu caminho. Fiquei um pouco a olhá-los. Mesmo inertes, eles eram tão sedutores... Digo isso, pois suas mãos estavam atadas por detrás das costas. A frente deles, havia um enorme piquenique. Havia também máquinas de escrever, computadores, canetas, papéis. Mas tudo intocado por eles. E lá fui eu mais uma vez, já acostumada a desatar nós, a empurrar meninos, a cortar linhas de bocas. Desatei as mãos atadas e das mãos soltas saíram livros. As mulheres se apresentaram: Lígia[ix], Ana[x], Ruth[xi], Elisa[xii], Eva[xiii], Maria Clara[xiv]. Os homens, garbosos, diziam seus nomes: Ziraldo[xv], Lobato[xvi], Ricardo[xvii], Charles[xviii], Hans[xix] e dois irmãos que não se desgrudavam e falavam tudo juntos[xx]. Nem eram necessárias as apresentações, sabia cada nome. E os amava como se amiga de infância deles fosse. Fiquei mais uma vez a ouvir suas histórias. Estavam animados e não paravam de parir novos contos, novas fábulas, novas histórias...

Até que a mais querida, Ana, pediu silêncio e dirigiu-se a mim com ares de sabedoria: “Sabes o porquê de tantos desafios, menina professora?”. Meu olhar afirmava um não, mas “boca não disse palavra”... E ela continuou: “Foi aquele tal de Celso Sisto, contador de histórias e colega nosso no ofício de escrever. A culpa é todinha dele. Estávamos todos adormecidos em sua memória e não é que o danado lhe aperreou até que você seguisse sozinha esse belo caminho?”. É verdade, Pepeu, tenho um professor novo que colocou como dever de casa o exercício de lembrar. E Ruth pegou a deixa de Ana e continuou: “Mas você, subversiva como é, menina professora, percorreu um caminho maluco, cheio de prolixas páginas... E vai dar um trabalhão danado ao pobre”. Ziraldo, com objetividade masculina, aquietou meu coração: “Não se avexe. Essa é a última placa dessa estrada. Na verdade, a penúltima. Olhe pra frente que voltarás para casa e nem vai precisar bater os pezinhos como Dorothy”.

E eu olhei. Havia sim mais uma placa, onde estava escrito: LIVROS DO PORVIR. Fui pelo caminho e lá estava a casa onde moro aqui em Porto Alegre, Pepeu. Entrei nela com satisfação e tranqüilidade. Ao abrir a porta, deparei-me com uma enorme estante repleta de livros nunca lidos. Aí, meu amor, foi só acariciar uma daquelas lombadas, tirá-las da estante e começar novamente a trilhar novos caminhos. Mas essa, meu lindo menino, é uma história que nem sei aonde vai dar. O importante é que retornei sã, salva e doida pra te contar essa deliciosa aventura...

Um grande beijo cheio de saudades da dinda que muito lhe ama;

Luciana Moreno.

[i] Lúcia Já vou indo, Maria Heloisa Penteado. [ii] Histórias em Quadrinhos da Turma da Mônica. [iii] A fada que tinha idéias, Fernanda Lopes de Almeida. [iv] Os bichos que tive, Tatiana Berlinky. [v] A Arca de Noé, Vinícius de Moraes. [vi] Os Saltimbancos, Chico Buarque. Na idade adulta, li os Músicos de Bremmen, recolhidos e escritos pelos Grimm.. [vii] Minha mãe contava muito a história da Dona Baratinha, cantando as canções, inclusive. Mas não cabia inclui-la aqui. [viii] Expressão usada por Ana Maria Machado em livro de mesmo nome. [ix] Lígia Bojunga (A bolsa amarela). [x] Ana Maria Machado (Raul da Ferrugem Azul, Menina Bonita do Laço de Fita, Bisa Bia Bisa Bel, Abrindo Caminhos, Do outro lado tem segredos, No país dos prequetés...). [xi] Ruth Rocha (Marcelo, Marmelo, Martelo; O dono da Bola; Terezinha e Gabriela, As coisas que a gente fala, O Barba Azul...). [xii] Elisa Lucinda (A menina transparente). [xiii] Eva Furnari (A bruxinha atrapalhada). [xiv] Maria Clara Machado (Pluft, o fantasminha; Eu chovo, tu choves). [xv] Ziraldo (Menino Maluquinho, Flicts, As anedotas, A menina Nina, o Menino Marrom, Um professora muito maluquinha, A bela borboleta...). [xvi] Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho, As caçadas de Pedrinho, Negrinha). [xvii] Ricardo Azevedo (Baú do Folclore, Histórias de enganar a morte, Histórias de bobos, bocós, burraldos e paspalhões). [xviii] Charles Perroult (Cinderela, Chapeuzinho vermelho...). [xix] Hans Crhistian Andersen (A sereiazinha, Patinho Feio, A princesa e a ervilha, A pequena vendedora de fósforos). [xx] Os Irmãos Grimm (Branca de Neve, os Músicos de Bremen...).

Um comentário:

  1. Tenho certeza que Porto Alegre está te fazendo bem. Onde mais teria tempo e imaginação para escrever uma história dessas?
    beijo

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