Foi
tão boa essa idéia de que o mundo iria acabar em 2012. Instaurou uma dúvida em
todo mundo, além da vontade, mesmo que inconsciente, de pagar contas consigo
mesmo, de realizar aquilo que já não mais poderia ser deixado para depois. Mas
o mundo não acabou e estamos aqui de novo com o péssimo sentimento de
eternidade. Pois se para o poeta, a modernidade assustava, para mim o que
assusta é justamente a perenidade que nos deixa tão seguros e nos faz ignorar
que na vida cada ano-dia comemorado não é de vida, mas de morte. É sempre menos
um. Nunca mais um!
Então,
o que mais sinceramente eu proponho é que a gente acredite que o fim do mundo
se aproxima. A gente devia até divulgar isso. Sei lá. Inventemos... Divulguemos
que no calendário de algum povo do continente africano, há a informação de que
de 2013 não passaremos. Os cientistas da NASA poderiam confirmar a informação a
partir de comprovações científicas. Todos ficaríamos assustados no começo,
entretanto, sorrateiramente começaríamos a sentir a urgência de viver as
banalidades do cotidiano.
Desta
forma, nesse ano que se inaugura a gente passaria a tratar cada dia como se
fosse o último, porque na verdade é. O dia vivido, quando se acaba não volta
mais nem se apaga! Ele deixa de existir, vira rastro na memória e nos lega a
incerteza do amanhã. A gente só sabe do passado justamente quando ele se
findou. É no presente que olhamos para trás, que nos conscientizamos daquilo
que experienciamos.
Certos
do fim, iríamos nos preocupar menos com as contas a pagar, com as
formações acadêmicas, com os prazos a cumprir. Faríamos menos coisas urgentes e
mais coisas ordinárias. Usaríamos cores mais fortes para pintar as unhas e para
quem não pinta unhas, inventaríamos um outro prazer bobo. Ou como diria Gil:
uma outra alegria de quintal.
A
gente se encantaria mais com os pequenos prazeres do que com os enormes sonhos
inatingíveis. Não que eu ache que a gente não deva ter sonhos impossíveis. Não
que eu ache que a gente não deva gastar suor com metas grandiosas. Eu acho que
a gente tem direito a tudo isso. Mas penso que investir cegamente e
unilateralmente em comprar um iate ou poupar o primeiro milhão, nos leva a
perder os diários amanheceres, os comuns ‘bom dia’ dos amores de nossas vidas,
as risadas do fim de tarde, o sabor da fruta madura da estação.
Com
a iminência do fim do mundo, perderíamos menos tempo apontando, controlando ou
opinando sobre a vida alheia. E assim, passaríamos a respeitar mais os desejos
conscientes do outro e, principalmente, faríamos absolutamente nada para
agradar ou dar justificativas ou provar algo. Então, apesar da presença
inevitável do medo em nossas vidas, não nos faltaria coragem para enfrentá-lo. Não
nos permitiríamos mais dizer o não com feição de sim nem o sim com jeito de não.
Dada
a proximidade do fim, a vida do outro não caberia no nosso rol de preocupações.
A gente iria buscar formas mais genuínas de felicidade. Desejaríamos querer
mais voltar à praia que íamos infância de mãos dadas como nossos pequenos do
que poupar para presenteá-los com o X-Box da vez! Nem haveria razões para
poupar dinheiro, tempo ou sentimentos.
O
fim nos obrigaria a viver o agora e a lidar com toda sorte de emoção que emane
de nós. No fundo, não creio na possibilidade do mundo acabar. Mas a idéia me
parece boa. Crer no fim para não esperar a boa hora de se lançar ao mar. Crer
no fim para se jogar na vida intensamente. Crer no fim para valorizar cada
começo como se fosse o último! Parece uma boa pedida. Então aos viajantes
corajosos e afeitos às maluquices da vida, eis o meu desejo: brindemos a 2013
como o ano do fim!
Brindemos à vida e à realização de nossos desejos hoje!
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