Mania de explicação (ou introdução para o poema): este poema nasceu numa disciplina que fiz, chamada de Literatura e Imaginário. Nesta o professor nos provocava a pensar o imaginário a partir de obras da Literatura de Portugal, Brasil,Moçambique e Angola. Neste delicioso caminhar, entre discussões, a turma ficou perplexa com o apego dos portugueses a um passado glorioso e a falta de reconhecimento em pleno século XXI das mazelas produzidas pelo colonialismo em países do continente africano como também aqui no Brasil. Então, sensibilizada pelo jovem aventureiro, criado pelo angolano Pepetela, escrevi um Mar Português como se o órfão pioneiro do MPLA o tivesse criado. É apenas uma brincadeira. Com todo respeito a pessoa de Pessoa e, mais que isso, com todo amor a obra deste português ilustre, peço licença para aportar num outro mar:
Óh, mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarem, quantas mães em América ou no Reino do Congo foram separadas do seus filhos, cometeram infanticídios e sequer puderam chorar!
Quantos filhos foram separados de seus pais, pela guerra e orfandade!
Quantos filhos foram escravizados, mortos, mutilados, silenciados!
Quantas noivas foram estupradas antes mesmos de desposada por seus próprios amores!
Para que fosses, ó mar de terras Lusitanas!
Valeu a pena?
Não se pode responder, não há mais como voltar
Via de mão única
Alma imensa que transborda híbrida de dores,
mas também de amores e de novos sentidos.
Quem quer passar além do Bojador, Chuí ou Gilbraltar
Tem que passar além da dor,
Buscando no espelho-mar
Outras, múltiplas, plurais faces
Perigosas, abismai faces,
Próprias do entrelugar
Que, inevitável, se constiuiu em nós livres colonizados
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