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quarta-feira, 11 de maio de 2011

ENTÃO É NATAL?!?!?!

Mais outra maluquice. Em pleno maio, comecei a pensar no Natal. Vê se pode? É porque nunca na história de anos passados, houve uma comemoração atrás da outra, como neste 2011. Páscoa, colada com dia das mães, um monte de outdoor de São João. Daqui a pouco é Natal, mesmo!

E como minha cabecinha não pára de pensar, já fui ficando incomodada com a rapidez do passar do tempo, com o consumismo desenfreado. Ô cabeça que não pára. Fiquei viajando (e sofrendo um pouco, é claro) com certa loucura que ocorre em todo dezembro (quiçá em toda brecha de tempo que a indústria encontra para vender). Todos criticam o comprar, comprar, mas também participam. Dentre este todo mundo é óbvio que eu me incluo até o último fio de cabelo. Já no final de novembro, faço listas de presentes e presenteados, vou ao comércio inúmeras vezes para comprar os presentes, gasto mais de 30 horas neste empreendimento. Compro embalagens, durex e fitilhos. Gasto em média... Deixa para lá. Nem eu mesma sei. E nem teria coragem de revelar mesmo.

Nessa fúria louca de comprar, comprar, embalar, embalar, fico a pensar no espírito que move/origina todos estes eventos... Como uma boa menina cristã e educada pelos dogmas católicos, apesar de ir com a multidão, algo fica martelando em minha cabeça: por que me envolvo de forma ensandecida nesta onda? Sei da superficialidade disso, sei que muitos dos presentes que compro são só para cumprir um papel, critico o consumismo excessivo, discuto a linha tênue entre amor, amizade e hipocrisia. Em suma, sou uma das chatas do politicamente correto.

Nessas viagens para responder a tal provocação desnecessária, mas insistente, lembrei dos natais que tive e talvez esteja aí a descoberta da pólvora. As coisas que lembrei estão nítidas na minha memória afetiva, mas eu nem mesma sei se elas de fato aconteceram ou se fazem parte daquilo que na memória é misto de realidade e invenção. Não tenho como as comprovar. Talvez compartilhá-las seja uma forma de ouvir alguém dizer: “foi mesmo, eu também me lembro”. E essas testemunhas oculares dessas minhas histórias de natal sejam as provas daquilo que vivi. Ou não, sei lá. O que importa?

Jamais me esquecerei, por exemplo, da vez em que meu pai muito seriamente nos disse, a mim e a Zau, que não teríamos presentes de Natal. Fiquei triste, pois o peso de ser uma boa menina foi sempre um fardo que tive de carregar, sendo assim não havia razão para tal decisão extremista. Depois, veio a explicação, iríamos a alguma loja de atacado de brinquedos, acho que era A.Gomes, compraríamos muitos presentes para meninos e meninas das nossas idades, e no dia da confraternização da enorme indústria da qual meu pai era dono (foi nisso em que sempre acreditei, é óbvio que não era verdade, mas também não era mentira – coisas da memória), eu e Zau daríamos aqueles presentes a cada funcionário para eles entregarem aos seus filhos. Me lembro de pegar cada presente e entregá-los. Me senti tão feliz, tão maravilhosa e importante, me senti uma pertencente verdadeira desta coisa imensa que chamam de humanidade. E não me venham provocar com aquela história de assistencialismo nem caridade. Eu era a menina com a mão extendida para o outro e um presente na mão. E como disse Clarice, hoje descubro que sou e sempre serei esta mesma menina de presente na mão e olhar fixo na mão do outro que se aproxima da minha. Que bom!
Não há como esquecer também dos Natais na casa de minha vó Benita em Lauro de Freitas. Ganhava tantos presentes. Minha família nunca foi rica. Éramos de uma classe média bem média, sempre labutando muito para não descer de padrão. Coisa bem brasileira. E os presentes eram vários, mas jamais os caríssimos jogos super-mega-master-plus-hi-tech.A casa era tão linda, tão cheia de gente. Meu avô estava lá para animar tudo, para receber as pessoas e fazer com que nós acreditássemos que aquilo era o mundo inteiro. Eu lembro da cor vermelha emanando de todas as coisas, lembro de um presépio colorido que ficava armado na enorme estantes da sala e lembro da areia que colocávamos no lugar onde ficaria o presépio. É impossível esquecer do algodão da árvore de natal, certamente para dar um ar mais europeu, já que meu avô Umbelino como todos sabem era sueco (de pais negros e de Maragogipe, mas era sueco).

Natais como aqueles nunca mais senti. Em um Natal, recebi de meu avô, uma caixa enorme com fantoches maravilhosos de todos os personagens da história de chapeuzinho vermelho. Não era um brinquedo, era um convite a fantasia, a criação, a contação de histórias. Talvez por isso, eu ame tanto as palavras, estude-as com a minha alma e adore conta-las. Inesquecível também uma boneca bebê japonesa (olhinhos puxados e tudo) que Zau ganhou. Eu que falo tanto em diversidade, em respeito as múltiplas identidades, jamais vi uma boneca japonesa para presentear aos meus trocentos sobrinhos. Como será quando nascer um bebê Fugiwara, onde mesmo acharei tal presente? Onde é que eles arrumavam estes brinquedos? Eram coisas tão magníficas, tão ímpares. Onde estão estes brinquedos? Se eles não vendem mais, será que eles existiram um dia?

Depois, vi inúmeras vezes minha avó, minha mãe e minha tia Lúcia fazendo as listas de presentes. Nelas estavam as pessoas muito amadas, as queridas e as nem tanto. Elas iam juntas a velha e boa Avenida Sete comprar os presentes. Passavam o dia inteiro na rua, nos levavam, riam muito, se divertiam, brigavam também, sempre se perdiam uma da outra, usavam aqueles instantes para celebrar o amor que tinham umas pelas outras. Depois era a casa cheia de presente. E isso, era mais magia para os meus olhos, pois uma casa farta e cheia de presentes é tudo que uma criança quer. Júlia e João o Pedro que o digam.

O próximo movimento é embalar e levar os presentes. Por muitos anos, minha mãe fez e faz uma peregrinação para a entrega dos presentes. E na lista estão desde dona Anita, ex-servente do Colégio Kleber Pacheco, até a secretaria de Bem estar Social da prefeitura de Lauro de Freitas. Para minha mãe, mais do que entregar o presente ao presenteado; é a hora de se sentar no quintal da casa de d. Anita e falar sobre o tempo (de outrora, de agora e de sempre).

Há alguns anos, veio o primeiro emprego e aí tive uma vontade imensa de fazer a primeira lista. Nela havia somente sete nomes: GUIDO, NORMA, ZAU, LÚCIA, SUELI, SANCI, CARMINHA. Depois a família aumentou, chegaram muitos novos amores e a lista também cresceu. Então acho que é por tudo isso. Creio que a resposta para essa fúria desenfreada na qual me insiro seja uma enorme vontade de retribuir às pessoas que me proporcionaram essas memórias novas histórias para contar. Desejo mesmo que em cada presente esteja o meu amor e o meu agradecimento por todas essas historinhas, sejam elas inventadas ou acontecidas.

4 comentários:

  1. Pró, parabéns pelo texto! Fiquei encantada,viagei na hitória, mto lindo mesmo!

    Elionai

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  2. Comadre, alguns pedidos a fazer depois de pensar muito no que vc escreveu...
    Primeiro, pode ser hipócrita comigo no Natal, mas me dê presentes.
    Segundo, pensando na diversidade e dentro do capitalismo de que sou vítima, não posso e nem quero fugir, aceito de bom grado algum automóvel koreano, um Ipad chinês ou qualquer coisinha da Armani feita em Bombaim.
    De qualquer sorte, sou um compadre, amigo e irmão muito tolerante,e mereço meu presente de Natal, ok? kkkkkkkkkkkkkkk
    Os texto estão um "dilícia" de ler; eu, aqui em meu canto, me reservo o direito de usá-los para piadinhas infames.

    Beijos.

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  3. Plagiando Rodrigo: Cumadre, irmã, madrinha e afilhada...
    Agora que já venci a incompetencia tecnologica, e descobri como acessar seu blog, me tornar seguidora, e poder até fazer comentários... rsrsrs
    Bom, sou testemunha ocular e prova viva que tudo que o que relatastes no texto não é invencionice de sua cabecinha brilhante, tudo foi, é e será sempre real, pois continuará vivo nas nossas lembranças.
    Com seu texto, como sempre para mim emocionante, me deu uma saudade imensa de Bena e Belo, de como eles conseguiam colocar um tom de mistério, ilusão e dinvindade em tudo que faziam para nossa família e amigos, principalmente seus netos: eu, vc, Mara, Rico, e todas as crianças que lhe acolhiam como avos. E não era só o natal, este era o apice de todos os eventos, mas também tinha Carnaval, Páscoa, São João, aniversário de meu avô, aniversário de boneca, enterro de pintinho e cachorro... rsrs
    Tudo era motivo para celebrar a vida.
    Acho que isso já explica um pouco de onde vem as suas, nossas "maluquices de cada dia".
    A cada texto seu me torno mais ainda fã sua, e agradeço ao Pai do Céu por ter me dado você de presente.
    Te amo.
    Bjs, Zau.

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  4. Fof, que delícia de texto! rememorei tantas coisas legais, a liturgia para armar a árvore, a agonia de fazer o peru na casa da minha avó na Liberdade, a espera dos presentes de papai Noel, muito legal! Adorei a sacada sobre a fluidez do tempo através das festas comemorativas (porque não chamá-las de comprativas, gastativas, cartãodecredistas!). Menina, outro dia eu comemorava meus 15 anos! Outro dia mesmo, viu Fof?! Ah bom!kkkkkk

    Inté a festa de dizer Feliz Natal, ou seja, quase amanhã!

    Beijoca!

    Dayse Sacramento

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