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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Luciana, Paulo Victor e Damião: um encontro irreverente!

Dia do trabalho. Mil reflexões, tantas reflexões que acho que nem vou saber colocá-las aqui.Um monte de viagem maluca que só de pensar nelas me dá uma enorme vontade de rir. É porque eu sou assim mesmo: para chegar no sentido, dou uma volta imensa e acabo me perdendo no meio do caminho. Quando volto e chego ao ponto de partida, nem sei mais do que estava falando. A propósito, de que mesmo eu falava???

Ah, claro!!! O Trabalho! Sempre fui leitora de contos de fadas e fábulas. Amo-os, adoro-os. Acho-os tão amplos, plenos, definitivos. Penso sobretudo que desvelam algo estupendo escondido em sua aparente ingenuidade e infantilidade. Por isso, nunca me conformei com a Fábula da Cigarra e da Formiga, recontada por La Fontaine. Qd. a formiga, via a cigarra tiritando de frio e respondia: "Cantavas, pois agora dança" e batia a porta na cara da cantora vagabunda, eu pensava: "Filha da puta, desta formiga! Que nigrinha, kd a compaixão desta vadia???" Ao passar do tempo, fui lendo as atualizações da fábula e vi que a formiga passava de cruel, a solidária e depois tornava-se a operária explorada. E isso tinha a ver com os sentidos construídos para o Trabalho na História da Humanidade.

Por muito tempo, o trabalho foi compreendido como algo menor, até porque o grande lance era não trabalhar. Trabalho era coisa de escravo, os nobres ficavam naquele ócio totalmente improdutivo, sendo servidos e isso era o melhor e mais correto. A escravidão, por exemplo, foi justificada como um favor que se fazia aos escravizados que estavam naquela situação, afirmava a Igreja para expurgar os pecados. Com as mudanças radicais impostas pelo advento de uma sociedade capitalista, a sociedade se transformou na sociedade do trabalho e a ordem também se inverteu. É desta época a versão de La Fontaine para a fábula da Cigarra e da Formiga, em que o autor francês supervaloriza o trabalho, em detrimento da arte e do lazer, considerados como atos de loucura, inconseqüência e irresponsabilidade. Assim, não é mais o trabalhador o inferiorizado e sim o vagabundo. É tb neste período que a humanidade começa a dizer: “é o trabalho que dignifica o homem” ou “tempo (de trabalho) é dinheiro”. Traduzindo quanto mais trabalha mais digno e rico, você se torna.

Hoje, o trabalho continua sendo bastante valorizado. Há mais gente viciada em trabalho do que vagabundos. E estes últimos são odiados e discriminados, sim, ainda! Entretanto, a cigarra/artista se profissionalizou. Em sua versão pós-moderna a chamaremos de Ivete Sangalo ou até Carla Perez. E elas tem dado na cara de muitos médicos, industriários e advogados com seus vultosos mega-salários, que pagam desde bolsas da Louis Vitton a mega mansões em qualquer Condomínio Super-luxuoso deste país. Assim, não é a nossa sociedade que mudou e passou a respeitar as pessoas que cantam enquanto os outros “trabalham”; é o cantar que foi se profissionalizado e se transformando em trabalho (não no seu sentido antropológico, mas no seu sentido capitalista mesmo).

E eu cá do meu cantinho fui educada pela escola e pela família, principalmente a trabalhar e sentir orgulho disso. E confesso, encho minha boca para dizer, que mesmo sem precisar, dou aula desde os 14 anos, e de lá para cá nunca fiquei sem trabalho ou emprego. Me formei aos 21 anos e, por dez anos da minha vida, tive, ao mesmo tempo, de cinco a dois empregos. O ano de 2009, foi o primeiro ano (em 18 anos de trabalho) que trabalhei em apenas um lugar. Bem, mas como este lugar é a UNEB e acumulei os trabalhos de professora, coordenadora e estudante, continuei na vibe de alucinação total, trabalhando intensa e malucamente.

Por isso, para mim trabalho é sim parte essencial da minha vida. Amo o meu trabalho de verdade, tenho paulatinamente conquistado minhas metas, sonhos, desejos a partir do meu trabalho e acredito que o meu fazer no mundo (remuneradamente) tem uma importância singular na minha vida, na vida das pessoas que são atingidas pelo que faço e no tempo e lugar onde atuo. O meu trabalho definitivamente me realiza.

Entretanto, (e sempre há tantos entretantos), muitas coisas tem me feito repensar na noção de trabalho. A primeira é o conflito de escolher uma profissão, vivido atualmente por Paulo Victor (meu filho-enteado). Para quem não o conhece é um gatinho de 18 anos, malhado, que ama futebol (inclusive achávamos que seria jogador de futebol), adora esportes, é pagodeiro. Como sua geração, tem posturas individualistas e gosta de consumir. Entretanto, escondido nesta aparente superficialidade, é alguém que se interessa pelas coisas do gueto e do mundo, se preocupa com questões sociais, questiona muitas coisas, é solidário com os amigos (ele tem muitos e diversos amigos), sabe dialogar com as pessoas e tem um poder de sedução interessante, porque sabe conquistar a todos (até a uma madrasta má). É o autêntico Gato de Botas do filme Sherek (e digo isso como um elogio). Esperto que só ele! A questão é que PV surpreendeu a mim e ao pai, quando se demonstrou maduro ao dizer: “Eu não quero o que vocês estão dizendo que eu quero. É verdade que não sei o que quero, mas sei o que não quero”. Confesso que tive medo!!! Pensei: “esse menino, meu Deus, convivendo com um pai viciado em trabalho vai ser vagabundo?!?!?!”. Mas depois, fiquei orgulhosa: “esse menino está virando um homem e eu tô é ficando velha e ainda nem pari”. Por um lado, bombardeio ele de informações, faço pressão, mas por outro, acho que ele está no caminho certo: trabalho é importante, entretanto tem que ser a profissão que a gente quer, precisa e deseja. Tem que ser algo que dê dinheiro e prazer. Tem que ser algo que nos realize. E cobrar isso de forma tão instantânea de menino-homem de 18 anos é algo minimamente escroto, mas urgente e necessário.

A outra coisa é que depois de 18 anos de trabalho (que engraçado a idade de PV) estou afastada do meu trabalho por quatro anos para estudar. E a primeira coisa que fiz foi construir um cronograma com horários de leitura, escrita e o diabo a quatro. Acho engraçado, porque mostra o quanto estou presa a esta dinâmica do trabalho. E PV (acho que vou dedicar este texto a ele) para me sacanear, a toda hora repete uma gracinha bem assim: “e ai, fofi, como é ficar de prega o dia todo?”. Ô, que descarado!!! Ao que eu repondo: “estou produzindo conhecimento para este país, cabeção. Minha profissão é pensar e divulgar pensamentos.” HAHAHAHA!!! Acredito nisso mesmo, mas descobri até em mim este preconceitos com a aparente falta de trabalho. Talvez o grande movimento agora deva ser colocar algumas horas de contemplar ao meu cronograma.

Para botar um ponto final nesta prosa, hoje de manhã pesquisando na internet sobre a cidade de Lauro de Freitas – meu lócus da pesquisa – descobri que o único filho ilustre da cidade, referenciado pela Wikipédia é um cantor, considerado um dos músicos mais incompreensíveis da música brasileira, chamado Daminhão Experiência. Um cara geralmente associado com um vagabundo (dizem que inclusive a pessoas na rua pensam que ele é mendigo). Entenderam? O caro mais célebre da cidade onde moro por 27 anos é nada mais nada menos do que uma cigarra, um vagabundo. A ironia é que não é Leão nem Moema, nem qualquer trabalhador o filho ilustre. É o cantor-mendigo. Que lição bacana para nós as efêmeras formigas.
PS: amigos historiadores, antropólogos e sociólogos, se houver erros conceituais no meu texto, apontem-nos para eu consertar.

4 comentários:

  1. Fofis!!

    Meus olhos ardiam de sono aqui no trabalho e resolvi dar uma olhadinha no seu BLOG... ACORDEI!!! kkkk

    Adorei o texto "Luciana, Paulo Victor e Damião..." Falando nisso, quando for aí vou pedir um autógrafo ao meu ilustre conterrâneo "Daminhão"...

    Primoca, fico muito feliz em ver que pelo menos 1 pessoa que eu conheço está realmente realizada com seu trabalho!! PARABÉNS!! Que sorte a sua!!

    Muito legal o blog.

    Joguei meus contos de Clarice no lixo, me modernizei e agora tenho lido "as maluquices nossas de cada dia" kkkkk

    BEIJOKAS!!

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk coitada da escrota,vadia, cachorra e poota formiguinha! Eu sou fã da cigarra e queria viver como ela,bem vagabundo, mas até na minha vagabundice eu sou peão. Bem comadre,PV sambou na sua cara e na de Paulo. Adorei o texto... cuidado para não escrever essas delícias dentro da lógica capitalista para comprara Louis Vuitton! Beijos!!!

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  3. Mais um texto excelente, acho que está se inspirando em mim, no seu mentor intelectual.kkkkk

    Beijos ardentes.

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  4. Fof, tenho uma noção de trabalho um pouco diferente da sua, pois eu gostaria de trabahar sem entretantos que me cansam, me desolam, me estressam, mas estou feliz, mesmo com os tanto entretantos.

    Adorei a resposta de PV a você e ao pai. Bem feito, neguinha!kkkkk Ainda hoje, depois de cinco anos de formada a minha mãe ainda reclama daquilo que escolhi para trabalhar, o qual faço feliz. Ela se apega demais aos entretantos... Me cansa inclusive!

    Adorei!

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